Timor-Leste rejeita compra de voto pela Rússia para organização da Expo 2020

José Luis Guterres

O Governo de Timor-Leste rejeitou hoje a informação veiculada na imprensa russa da compra do voto timorense para a organização da Expo 2020 e admitiu recusar o apoio à Rússia caso a notícia seja verdade.

“Nós rejeitamos completamente a informação que vem veiculada na imprensa”, afirmou à agência Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Luís Guterres.

O trissemanário russo Novaya Gazeta noticiou na sua última edição que a Rússia comprou votos de apoio de Estados minúsculos do Pacífico, incluindo Timor-Leste, para a organização da Exposição Mundial de 2020, citando documentos diplomáticos russos.

Segundo o chefe da diplomacia timorense, as autoridades do país receberam uma delegação da Rússia, onde estavam vários diretores do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, mas “em nenhuma ocasião se falou nem da troca de votos, nem de condicionar o nosso apoio a algum apoio financeiro”.

“Nunca isso esteve em cima da mesa. Tive oportunidade de reiterar à delegação que apoiávamos por decisão do primeiro-ministro, mas, ao nível do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o que eu disse aos membros da delegação foi que sendo a Rússia um membro do Conselho de Segurança e depois de nos ter apoiado tantos anos tínhamos decidido que podíamos retribuir esse apoio, dando esse voto à Rússia para a organização da Expo”, explicou José Luís Guterres.

O ministro timorense disse também que a delegação teve um encontro com o Presidente da República, Taur Matan Ruak, e com o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, que falou da necessidade da comunidade internacional, incluindo a Rússia, como país desenvolvido, olhar mais para os “assuntos dos pequenos países do Pacífico”, nomeadamente para os problemas relacionados com as alterações climáticas.

“Não se falou de maneira nenhuma de eles terem de publicar poemas ou livros de quem quer que seja. Nunca isso foi discutido. Eu tive em todas as reuniões”, insistiu José Luís Guterres.

Segundo os documentos citados pelo jornal russo, Timor-Leste vendeu o seu voto “pela tradução e edição em língua russa da coletânea de poemas “Meu Mar”, do primeiro-ministro de Timor Leste, X. Gusmão”.

O jornal cita uma carta escrita por A. Tatarinov, diretor da terceira secção do Departamento da Ásia do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

A delegação russa, liderada por Arkady Chernetskiy, que pertence ao grupo que está a organizar a candidatura da Rússia à Expo 2020, esteve em Timor-Leste a 24 de abril.

Nas declarações à Lusa, o chefe da diplomacia timorense admitiu também a possibilidade de Timor-Leste recuar no seu apoio à Rússia caso se confirme a veracidade das declarações do diretor do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

“Nós vamos averiguar, porque aparentemente citam declarações de um diretor do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. No caso daquelas declarações terem sido do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo obviamente que Timor-Leste não vai apoiar a Rússia”, afirmou.

“Não vamos apoiar a Rússia porque é uma especulação e desacredita a diplomacia timorense e por isso mesmo não vamos de maneira nenhuma, se isso for verdade, dar o nosso apoio à Rússia e queremos uma explicação”, salientou.

Neste momento, a Rússia já está a organizar os Jogos Olímpicos de inverno de 2014 e o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018.

Na corrida à organização da Expo-2020, Moscovo tem como concorrentes a Turquia, o Brasil e os Emiratos Árabes Unidos.

A Rússia não tem embaixada em Timor-Leste.

MSE (JM) // MLL

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